‘007: Sem tempo para morrer’: despedida de Daniel Craig tem final épico, que deve provocar emoções fortes até nos corações mais duros

05/10/2021

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Ao final de “007 contra Spectre” (2015), ficou claro que Daniel Craig ia aposentar a pistola Walther PPK e outro ator seria o novo James Bond. Mas foram tantas as polêmicas sobre quem assumiria o papel que os produtores resolveram trazer Craig de volta para acalmar os fãs. Além dessa celeuma de redes sociais, a pandemia adiou o lançamento do longa por mais de um ano. Mas “Sem tempo para morrer”, que finalmente chega ao circuito nesta quinta-feira (30-9), conseguiu driblar as adversidades com um belo resultado, e, apesar dos 163 minutos de duração, sua narrativa flui.

Na história, cinco anos após ter capturado Blofeld (Christopher Waltz), James Bond deixou o serviço ativo e está desfrutando uma vida tranquila na Jamaica (uma referência a onde Ian Fleming, criador de Bond, morava). Mas seu velho amigo Felix Leiter (Jeffrey Wright), da CIA, aparece pedindo ajuda numa missão de resgate, o que o leva à trilha de Lyutsifer Safin (Rami Malek), um misterioso vilão armado com uma nova tecnologia perigosa.

“No time to die” (no original) tem todos os elementos esperados  num filme com James Bond: cenários paradisíacos, figurinos deslumbrantes, gadgets fantásticos, cenas eletrizantes e reviravoltas na trama. É um típico representante da franquia iniciada por Daniel Craig com “007 – Cassino Royale” em 2006, apontada como se fosse uma espécie de cinessérie de origem do personagem e com várias referências aos longas estrelados por outros atores que interpretaram Bond – temia-se que a nova aventura destoasse dos quatro filmes anteriores que fechavam um ciclo de maneira redonda, mas os fãs agora podem dormir tranquilos. Os roteiristas Neal Purvis, Robert Wade e Cary Joji Fkunaga, este último também o responsável pela direção, conseguiram também inserir na trama elementos na narrativa que justificam a volta de Bond da aposentadoria.

Para a direção, os produtores convidaram o novato americano Fkunaga para assumir o projeto quando Danny Boyle abandonou o barco, junto com o roteirista John Hodge, alegando diferenças criativas. Cary foi uma escolha ousada por nunca ter comandado uma superprodução, muito menos de uma franquia bilionária. Além do bom trabalho com séries para a TV, como a primeira temporada de “True Detective”, seu nome ganhou força com o premiado filme “Beasts of no nation” (2015). Ele convidou a atriz e roteirista Phoebe Waller-Bridge (criadora do seriado “Fleabag”) para o time com o objetivo de agregar mais humor e desenvolver mais as personagens femininas, especialmente Nomi, interpretada por Lashana Lynch, que assume o lugar de James Bond durante sua aposentadoria, recebendo o número 007.

Cary mantém a ideia dos quatro filmes anteriores de modernizar James Bond, tornando-o mais real, humano, melancólico e com falhas, explorando suas dúvidas, seu sofrimento, seus sentimentos – é um homem tentando entender seu lugar e seu papel no mundo. Ao mesmo tempo, ele insere Bond num contexto mais antenado com temas atuais, como a diversidade. Tecnicamente, Cary usa uma linguagem já apresentada em seus trabalhos anteriores, alternando planos-sequências com uma câmera caótica. Suas melhores sacadas cinematográficas acontecem no terceiro ato, extremamente poético, que deve provocar emoções fortes até nos corações mais duros, proporcionando um final épico, algo que nunca aconteceu em nenhum outro filme com James Bond.

Não se sabe como será o futuro da franquia. E não há como existir outro Sean Connery, o mais icônico até agora no papel, mas outros atores também funcionaram por uma simples razão: carisma. Este é o único atributo de fato necessário – vide o resultado pífio do australiano George Lazenby em “007 – A serviço secreto de sua majestade” (1969), que tinha as características físicas exatas do personagem originalmente criado por Fleming em 1952 (ele fez um esboço na época), mas não o indispensável. O próprio Daniel Craig não foi visto com bons olhos no início, por ser louro, baixo, bombado e de olhos azuis, mas conquistou seu espaço por ser carismático. Assim, independentemente de etnia ou gênero, basta ter aquele imprescindível magnetismo para ser um bom James Bond.

BY ALEXSANDER QUEIROZ SILVA
Fonte: O Globo