Fotógrafo francês que registrou o RJ há 100 anos ganha livro; G1 mostra como os cliques estão hoje

02/12/2020

O francês André-Charles Armeilla esteve na capital federal entre 1903 e 1913. Publicação joga um pouco de luz sobre sua produção e sua vida, da qual pouquíssimos detalhes são conhecidos.

Um fotógrafo que contribuiu para o registro histórico do RJ vai passar a ser mais conhecido pelos cariocas. Até então, quase nada se sabia sobre o francês André-Charles Armeilla. Isso impedia seu reconhecimento como um dos principais responsáveis pela iconografia carioca e fluminense do início do século 20.

O livro Armeilla: um mestre esquecido da paisagem carioca chega às livrarias com 180 fotos do francês e a missão de jogar luz sobre sua produção e sua vida. O fotógrafo viveu no Rio de Janeiro entre 1903 e 1913 e morreu quase à indigência na própria cidade, com presumíveis 60 anos.

Usando os mesmos ângulos de Armeilla, o G1 fez uma comparação visual entre o Rio de Janeiro dos primeiros anos do século 20 e o dos dias de hoje — e resume as transformações urbanas no período.

A coletânea foi escrita pelo colecionador Pedro Corrêa do Lago, a partir de pesquisa de Agenor Araújo Filho, e saiu pela Editora Capivara.

As imagens reproduzem momentos cotidianos e paisagens da então capital do Brasil – material que era vendido para revistas de informação da época – como a Kósmos e a Careta – e também para o já ativo setor turístico carioca, que transformava os registros do fotógrafo francês em cartões-postais.

Apesar da beleza de seus cliques, a contribuição de Armeilla para a consolidação das impressões visuais do Rio de Janeiro no imaginário mundial foi esquecida ao longo do tempo.

Citações às imagens da cidade feitas naquele período costumam utilizar como exemplos apenas os trabalhos de outros dois fotógrafos fundamentais para a história do Rio, Marc Ferrez e Augusto Malta.

“Esses dois tiveram famílias que, após suas mortes, continuaram divulgando as fotografias que haviam feito. Esse não foi o caso de Armeilla, que, até onde sabemos, era sozinho no mundo. Depois de sua morte, ninguém mais fez propaganda de seus registros”, avaliou Pedro Corrêa do Lago.

Vida oculta

A vida de Armeilla é envolta em mistério, e poucos detalhes são conhecidos sobre sua trajetória – algo que sempre intrigou os pesquisadores.

Além da década em que esteve no Rio de Janeiro, sabe-se apenas de uma passagem dele pelo Uruguai. E mesmo essa informação, durante muito tempo, era considerada imprecisa.

Os elementos iniciais da pesquisa que resultou no livro sobre o fotógrafo eram bastante escassos. Havia poucas dezenas de negativos do início do século 20 que Armeilla escolheu identificar com sua assinatura: “C. Armeilla”.

Pouco antes, existiu um fotógrafo paisagista chamado “A. Armeilla”, em Montevidéu, na última década do século 19, sobre o qual também havia pouquíssimos dados biográficos.

Chegou-se a acreditar que poderiam ser duas pessoas diferentes – parentes de mesmo sobrenome. No entanto, o registro de óbito afastou essa possibilidade e permitiu o levantamento dos dados biográficos do artista.

A pesquisa constatou que se tratava da mesma pessoa.

“Há o fato de termos identificado o nome completo de Armeilla e as iniciais de seus nomes de batismo serem justamente o A e o C com que os ‘fotógrafos Armeilla’ assinaram suas obras”, esclareceu Agenor, no capítulo “Em busca de uma obra oculta”.

“Isso nos leva a crer que se trata da mesma pessoa, que já chega ao Rio de Janeiro para uma segunda carreira (que talvez não imaginasse tão fugaz) com a respeitável bagagem de sua experiência como destacado fotógrafo no Uruguai”, emendou.

Transformações

G1 conversou com o historiador Paulo Reis, que detalhou algumas das transformações dos bairros retratados por Armeilla.

Um deles é a Lapa. “Um dos primeiros bairros da cidade. Era residencial, mas no início do século 20 se transforma um bairro boêmio. Ficou abandonado por um tempo, e hoje retorna a essa característica de bairro boêmio, o que guarda a cultura da cidade”, ensinou.

Já Niterói começou pelo Fonseca “e se abriu em leque”. “Entre o Ingá e Icaraí temos a Praia da Boa Viagem. Nas imagens antigas, a gente vê pescadores, caiçaras, uma calmaria que hoje não tem.”

Fonte: G1

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